Em uma praça entre quatro prédios no bairro de Campinas, no Porto, 25 alunos de 4 continentes se reúnem com os arquitetos Roberto Cremascoli, Ivo Poças Martins e Nicolò Galeazzi para realizar um laboratório de autoconstrução. Lá, estamos no processo de construir equipamentos que pretendem requalificar aquele espaço, com a intenção de unir os moradores e providenciar espaços de convivência, incentivando projetos como esse a serviço da comunidade, além de repensar nosso papel como estudantes de arquitetura.
Não é nossa premissa resolver algum problema ou intervir de maneira impositiva no bairro, mas sim de encontrar um meio do caminho onde já existiam vontades para evidenciá-las. Quando chegamos à praça, percebemos que haviam caminhos marcados por falhas na grama, onde se faziam passagens frequentes dos moradores. Existia também um círculo queimado no chão ainda com fuligem da última comemoração da festa de São João, onde é uma tradição do bairro fazer uma fogueira naquele local. Em um segundo momento, foi possível perceber crianças brincando em cima de uma mesa de madeira improvisada, em baixo da sombra das árvores. Em seguida, nos unimos para pensar como qualificar o espaço para essas demandas informais.
Assim surge a proposta de fazer o “bicho”, uma espécie de mobiliário que abrigaria crianças, moradores, animais de estimação e atividades variadas, em uma mesa que vira banco que vira apoio que se estende em 27 metros e se transforma em uma espécie de parquinho. Evidenciar o espaço da fogueira pareceu importante também, fixando ele e integrando com nosso “teatrinho”, uma espécie de coreto, que eleva-se do terreno criando um palquinho desenhado como apoio para celebrações e encontros.
Sair da sala de aula e do papel para participar dessa ação de construção conjunta, onde se dividem ideias e trabalho através de dialetos diferentes e visões de mundo distintas é uma oportunidade muito enriquecedora para nós como alunos. Compartilhando conhecimento e modos de se fazer de uma maneira dinâmica e colaborativa faz muita diferença, especialmente quando fazemos parte do processo de construção, abrimos a planta no canteiro e analisamos os materiais, e consequentemente repensamos a estrutura e o desenho que fazemos, uma vez que carregamos as madeiras e cavamos os buracos para as fundações com nossas próprias mãos.
Texto por Stephanie Lima (Brasil), participante do Laboratório.